Já muitas vezes me foi pedido um conselho por jovens actores. A maioria das vezes, sinto que gostariam que lhes desse uma "receita", que partilhasse com eles um "segredo". Bom, a verdade é que não existem "receitas" ou "segredos". Porquê? Aqui vai a explicação pela voz de Kevin Spacey.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Queixa das Almas Jovens Censuradas
Aqui deixo o magnífico poema de Natália Correia, porque faz falta:
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
Natália Correia (Poetisa portuguesa, 1923-1993)
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
Natália Correia (Poetisa portuguesa, 1923-1993)
A Arte e a Crise
Ora pois. A crise instalou-se. E vai crescer, é melhor não nos iludirmos. E a Arte? e os Artistas? Qual é o nosso papel, em plena crise? Continuarmos no nosso "cantinho"? Fazermos "o que se pode", tendo em conta a crise? Conformarmo-nos? - nenhuma destas hipóteses me parece muito artística....
Sempre vi a Arte como inconformista, pioneira, agitadora de consciências. Não é a Arte DA guerrilha, é a Arte DE guerrilha. Provocadora. Agitadora. Inconformista.
O que sinto é que precisamos de nos encontrar num espaço livre, numa ideia, numa forma de dizer e fazer. Mas quando digo que precisamos de nos encontrar, não estou a falar nos encontros dos "quintais", mas no encontro de consciências, de vontades, de seres.
E como dizia uma cantiga que ouvia na adolescência "...quem tem medo compra um cão, quem tem sono vai dormir, quem quiser que dê as mãos..."
Continuar, como se nada tivesse mudado, é dormir. Até podemos ser marginais, o que não devemos é colocar-nos à margem do que acontece, do que existe, do que é.
Olhar para fora ... por dentro. É o que temos de fazer.
O que sinto é que precisamos de nos encontrar num espaço livre, numa ideia, numa forma de dizer e fazer. Mas quando digo que precisamos de nos encontrar, não estou a falar nos encontros dos "quintais", mas no encontro de consciências, de vontades, de seres.
E como dizia uma cantiga que ouvia na adolescência "...quem tem medo compra um cão, quem tem sono vai dormir, quem quiser que dê as mãos..."
Continuar, como se nada tivesse mudado, é dormir. Até podemos ser marginais, o que não devemos é colocar-nos à margem do que acontece, do que existe, do que é.
Olhar para fora ... por dentro. É o que temos de fazer.
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